Se em teoria carnaval é uma festa que teve origem na Grécia antiga e, a partir da era cristã, começou a ser calculada em razão do equinócio (e da Páscoa), em prática mesmo ele só parece ganhar significado muito tempo depois, quando o Brasil adotou para si esse costume. Mas nada se compara a revolução que houve no Carnaval em Salvador, e isso, só muito tempo depois, vinte séculos.
Em 1884 a alegria e a música já tomavam conta de todos quando fevereiro chegava, mesmo que toda diversão ficasse dentro dos clubes e lugares fechados, e foi justamente desde o momento que algum folião colocou o pé para fora na rua e seguiu por elas em um bloco que o Carnaval dava seu primeiro passo em direção a àquela revolução do primeiro parágrafo, que viria em 1950, com dois caras de Salvador, um velho Ford 1929 e a vontade de levar a música para onde quer que conseguissem e, com isso fazer o Carnaval em Salvador ganhar fama mundial.
A dupla era Dodô e Osmar, com seu hibrido agudo entre um cavaquinho e um bandolim, que, posteriormente ficou sendo conhecido como “pau-elétrico” (e logo “guitarra-baiana”), com eles nascia o verdadeiro Carnaval de Salvador e seu “trio-elétrico” (na verdade ainda uma dupla, só mudando de nomenclatura com a chegada de Aragão e seu “Triolim”, uma espécie de violão tenor). Não é exagero dizer que depois disso o carnaval nunca mais foi o mesmo, tanto aqui quanto no mundo.
O resultado, um punhado de foliões seguindo esse carro conversível que passeava pelas ruas no domingo de carnaval em Salvador com alto-falantes, esses caras tocando seus instrumentos e muita música. É lógico que em pouco tempo a evolução chegou ao que hoje todos conhecem como trio-elétrico e o punhado de foliões se transformou realmente em multidões, mas talvez a revolução estivesse só no começo.
Enquanto os anos 70 chegaram aos trios-elétricos com a influência de diversos blocos afros como o “Ilê Ayiê” e afoxé como o “Badauê”, foram os artistas que cresceram escutando e tocando nos carnavais de Salvador que uma década depois, ao começarem a compor suas próprias músicas, que se criava o Axé, o talvez mais popular dos gêneros musicais brasileiros depois do samba.
Os ritmos, as cores e a energia sobre os trios culminaram no “Fricote” de Luiz Caldas em 1985 e, depois de muito tempo tomado pelas músicas estrangeiras, as rádios populares do Brasil podiam, mais uma vez, tocar os artistas nacionais. O tempo passou e hoje são mais de 20 anos de algo que se tornou uma tradição e arrasta multidões pelo mundo atrás de trios-elétricos comandados por Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Daniela Mercury, Asa de Águia e mais um monte de nomes que surgem todos instantes e, não parecem perder o fôlego nunca.
Se Salvador aprendeu com o carnaval como arrastar multidões, o próprio Carnaval aprendeu com Salvador que não há hora nem lugar para muita música, diversão e Axé.